FIFA vai ao coração dos problemas cardíacos(FIFA.com)
Dirigentes e equipes médicas de mais de 170 países se reuniram em Zurique, nos dias 17 e 18 de outubro, e participaram da primeira Conferência Médica da FIFA. Diversos assuntos investigados pelo Comitê Médico da FIFA e pelo Centro de Avaliação e Pesquisa Médica da entidade (F-MARC) nos últimos 15 anos foram discutidos no encontro, entre eles a prática do futebol em altitude elevada, a observância do Ramadã, a luta contra o doping e, como o FIFA.com destaca, a iniciativa da entidade máxima do esporte para prevenir a "morte súbita cardíaca" (SCD na sigla em inglês).
Às vezes, até mesmo a pior das tragédias pode servir como catalisador do progresso. A morte chocante de Marc-Vivien Foe durante uma partida da Copa das Confederações da FIFA, em 26 de junho de 2003, sem dúvida ajudou a impelir a comunidade do futebol a encontrar maneiras de prevenir incidentes similares em campo no futuro, argumento exposto pelo professor Jiri Dvorak, médico-chefe da FIFA e presidente do F-MARC, no seu discurso de abertura. A autópsia do jogador camaronês revelou que ele tinha uma cardiomiopatia hipertrófica congênita da cavidade esquerda do coração, uma das principais causas de SCD em atletas, e outras alterações na cavidade direita do coração.
Estudos têm sido realizados para apurar as causas mais prováveis de tais incidentes e, acima de tudo, para aperfeiçoar e implementar medidas preventivas. Em uma iniciativa pioneira de um organismo esportivo, o F-MARC desenvolveu uma avaliação médica pré-competição (PCMA na sigla em inglês) específica para o futebol, e consequentemente cada jogador das 32 seleções participantes da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 teve de realizar esses testes para detectar uma possível doença cardíaca oculta.
O médico Fernando Di Paolo, em seguida, relatou um estudo que realizou no norte da Itália, onde um grande número de atletas profissionais foi examinado, já que o teste regular no país é uma prerrogativa exigida por lei. O que ele descobriu foi que, embora competir no nível mais alto, jogando futebol por exemplo, possa provocar SCD quando o coração já está enfraquecido pela até então doença não detectada, isso não deve de forma alguma ser tomado como a causa fundamental de tais incidentes.
"Acima de tudo, nos perguntamos como poderíamos lutar da melhor forma possível contra mortes de jovens atletas dessa maneira", disse. "Identificamos duas abordagens básicas: prevenção através da PCMA e, quando o ataque acontece, reação com um eficiente atendimento emergencial, compreendendo a desfibrilação." Os italianos exigiram um exame específico para todos os esportistas. "Inclusive a realização do eletrocardiograma em repouso no exame regular de uma população majoritariamente caucasiana fez com que a taxa de incidência de SCD caísse consideravelmente", explicou Di Paolo. Uma reação rápida e eficaz na sequência de um ataque cardíaco é fundamental quando ele não pôde ser prevenido, mas os índices de sobrevivência ainda continuam terrivelmente baixos, de 16% a 17%.
Padronizando a prevenção
A FIFA apoia abertamente a prevenção por meio da PCMA, e os resultados têm sido animadores até agora. "Foi importante ver que em 2006 todas as seleções que se classificaram para a Alemanha aderiram efetivamente ao programa", acrescentou Bert Mandelbaum, membro do Comitê Médico da FIFA e médico da seleção americana. "Desde então, nós o utilizamos o máximo possível e queremos ampliar o seu uso. A FIFA aceitou a sua responsabilidade em relação à saúde dos jogadores, colocando a PCMA em prática."
Mas o que é exatamente a PCMA? Ela consiste em toda uma bateria de exames médicos para que seja possível detectar eventuais problemas cardíacos, entre outras coisas. A PCMA da FIFA inclui não apenas um eletrocardiograma em repouso, mas também um ecocardiograma do coração para maximizar as possibilidades de detecção de doenças. O objetivo agora é padronizar um sistema preventivo no futebol e vê-lo aplicado em todos os lugares e a todas as pessoas, tal como indicado. É exatamente isso que, por exemplo, o médico Yacine Zerguini vem conseguindo fazer na sua Argélia. "Houve inúmeros desafios", afirmou. "Para tornar o exame obrigatório, fizemos dele uma condição para obter a licença necessária àqueles que disputam competições. Depois disso, tivemos que armazenar as informações de 150 mil jogadores em um banco de dados, assegurando o respeito à confidencialidade do paciente. Conseguimos fazer isso, o que prova que a PCMA padronizada é possível em larga escala."
O presidente do Comitê Médico da FIFA, Michel D'Hooghe, também acredita na eficácia dessa prevenção, mas acha também que todos terão de trabalhar para universalizar a implementação. "Existem 260 milhões de jogadores no mundo, e sabemos muito bem que será difícil aplicar a PCMA a todos eles", disse. “A FIFA está comprometida a colocá-la em prática no nível mais alto, mas as associações membros terão de seguir o exemplo e realizar o mesmo esforço."
No entanto, a PCMA também pode ser implementada de forma gradual, começando com uma simples avaliação do histórico médico e um exame, e aprofundada apenas se algo suspeito for detectado, reduzindo assim os custos e os requisitos de infraestrutura. Embora esteja ainda em fase embrionária, essa abordagem preventiva representa claramente um importante avanço na luta para evitar a morte precoce de um novo Marc-Vivien Foe, Miklos Feher ou Antonio Puerta durante a prática do futebol.
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